Nos Estados Unidos, na sexta-feira (12), mais uma informação foi divulgada dos arquivos de Jeffrey Epstein.
Desta vez: novas fotos, publicadas por democratas da Câmara, mostram Donald Trump e outras figuras poderosas como Bill Clinton, Steve Bannon e Richard Branson, selecionadas entre dezenas de milhares de fotos do acervo de Epstein.
Mas as relações de Epstein com esses homens – nenhum dos quais foi acusado de irregularidades pelas autoridades policiais – são de conhecimento público, e as fotos por si só não nos dizem muita coisa.
Na verdade, a notícia mais surpreendente sobre este assunto na manhã de sexta-feira pode ter vindo de uma fonte diferente: uma pesquisa.
A pesquisa reforçou o quão problemáticas as iminentes divulgações de documentos podem ser para Trump, especialmente às vésperas do importante prazo da próxima sexta-feira para o Departamento de Justiça americano entregar ao Congresso o que possui.
Isso porque muitos americanos – inclusive republicanos – estão inclinados a acreditar, ou pelo menos a considerar a possibilidade, de que Trump tinha conhecimento de algo suspeito.
A pesquisa Reuters-Ipsos perguntou se os americanos acreditavam que Trump não tinha conhecimento dos supostos crimes de Epstein antes que eles se tornassem públicos.
Apenas 18% disseram que era “um tanto” ou “muito” provável que Trump não soubesse. Já 60% disseram que era “pouco” ou “nada” provável que Trump não soubesse.
Isso representa uma margem de 3 para 1 entre aqueles que acreditam que Trump sabia de algo.
Mesmo entre os republicanos, um número ligeiramente maior acreditava que Trump provavelmente sabia (39%) do que aquele que acreditava que ele não sabia (34%).
Trump, mais uma vez, não foi acusado de irregularidades no caso Epstein e negou qualquer envolvimento.
Mas não é apenas esta pesquisa que sugere que o público acredita que ele tem algo a esconder.
Uma pesquisa da Yahoo News-YouGov realizada em julho perguntou não apenas se Trump tinha conhecimento dos supostos crimes de Epstein, mas também se havia participado de crimes com Epstein. Cerca de metade dos americanos (48%) disse acreditar que Trump havia participado.
Mas, talvez ainda mais surpreendente, apenas 24% dos americanos duvidaram que ele o tivesse feito. O restante se mostrou neutro.
E, novamente, mesmo muitos republicanos não descartaram essa possibilidade. Apenas 55% dos republicanos rejeitaram a afirmação de imediato. (13% achavam que Trump havia cometido crimes com Epstein, enquanto um terço se mostrou neutro.)
Só para reforçar o quão notáveis são os resultados dessas pesquisas: três quartos dos americanos indicaram que ainda consideram a possibilidade de o presidente dos Estados Unidos ter conhecimento ou até mesmo ter participado de crimes com um pedófilo notório. E até mesmo muitos republicanos acreditam que ele sabia algo sobre as atividades de Epstein.
Isso sugere que, mesmo que não haja provas irrefutáveis ligando Trump a irregularidades, a iminente divulgação de mais documentos pode ser prejudicial ao presidente, na medida em que continuem mencionando Trump ou incluindo fotos dele, como já fizeram antes. (Quanto às fotos e e-mails do espólio que os democratas do Comitê de Supervisão da Câmara divulgaram, a Casa Branca alegou ser uma “farsa democrata”, afirmou que os e-mails “não provam absolutamente nada, além do fato de que o presidente Trump não fez nada de errado” e disse que o governo “fez mais pelas vítimas de Epstein do que os democratas jamais fizeram”.)
Há algumas ressalvas importantes a serem feitas em relação aos resultados das pesquisas.
Uma das razões é que as perguntas da pesquisa não especificaram o tipo de crime. Certamente, Epstein é conhecido por um tipo muito específico de crime. Mas talvez o grande número de pessoas que consideram a possibilidade de Trump estar envolvido em crimes se deva, em parte, ao fato de os americanos acreditarem, em geral, que pessoas muito poderosas são capazes de cometer certos tipos de crimes.
De fato, já vimos isso antes, especificamente com Trump. Pesquisas realizadas durante a campanha de 2024 mostraram que 54% dos eleitores, contra 38%, acreditavam que Trump havia cometido “crimes federais graves”. Mesmo muito antes de suas acusações, uma pesquisa realizada em meio ao escândalo de impeachment de Trump, por supostamente pressionar a Ucrânia para obter ajuda nas eleições de 2020, mostrou que 63% acreditavam que Trump pelo menos “provavelmente” havia cometido atos ilegais durante sua carreira política.

Portanto, parte disso poderia ser incorporado ao processo.
Mas, no que diz respeito aos crimes de Epstein, não há provas concretas do envolvimento ou conhecimento de Trump, ao contrário do que ocorre com as acusações contra ele ou com o escândalo da Ucrânia.
E é provável também que parte disso se deva à forma como Trump lidou com os arquivos de Epstein e ao que descobrimos até agora.
O presidente dos EUA, simplesmente, fez uma série de coisas que certamente deram a impressão de que ele tinha algo a esconder.
Isso inclui uma série de declarações enganosas sobre seu relacionamento passado com Epstein, bem como suas revelações lentas sobre saber que Ghislaine Maxwell, cúmplice de Epstein, recrutou uma funcionária menor de idade de Mar-a-Lago, Virginia Giuffre.
Existem também diversos indícios que sugerem que Trump sabia que Epstein tinha um interesse particular por mulheres jovens, pelo menos. E isso não se resume à sua infame declaração de 2002 sobre Epstein gostar de mulheres “mais jovens”.
Os e-mails de Epstein divulgados no mês passado mostraram Epstein sugerindo em conversas privadas que Trump sabia algo sobre Epstein e as garotas.
“É claro que ele sabia sobre as garotas…”, disse Epstein em um trecho de 2019, em aparente referência ao recrutamento de Maxwell. Em outro e-mail de 2011, Epstein chamou Trump de “o cachorro que não latiu” e disse que Giuffre havia “passado horas na minha casa” com Trump.
Diante disso tudo, não deveria ser surpresa que muitos americanos acreditem no pior e que muitos outros pareçam, pelo menos, manter a mente aberta quanto à possibilidade de Trump estar envolvido ou ter conhecimento dos crimes de Epstein.
Mas, faltando menos de uma semana para o prazo final de sexta-feira para a divulgação dos arquivos do Departamento de Justiça, esses não são os tipos de números que Trump gostaria de ver.
E isso reforça o perigo político muito real que tudo isso representa para o presidente. Afinal, os americanos já vinham presumindo o pior sobre os arquivos de Epstein há algum tempo. Trump acabou de dar a eles motivos para acreditar que tinha algo a esconder.