A retirada do ministro Alexandre de Moraes e sua esposa, Viviane Barci de Moraes, da lista de sanções da Lei Magnitsky pelo governo dos Estados Unidos é um gesto positivo, mas insuficiente para normalizar as relações entre Brasil e EUA. Esta é a avaliação de Rubens Barbosa, ex-embaixador brasileiro em Washington, que concedeu entrevista à CNN Brasil nesta sexta-feira (12).
Segundo Barbosa, a decisão americana representa uma vitória diplomática para o governo brasileiro, que havia solicitado a retirada das sanções em diversas ocasiões. “O presidente Lula tinha solicitado isso mais de uma vez ao presidente Trump e agora, talvez por causa dessa medida da dosimetria, talvez por alguma outra razão que a gente não tem informação, a influência de alguns empresários, por alguma razão eles resolveram tomar essa outra decisão unilateral, o que do ponto de vista político para o governo brasileiro é muito positivo”, afirmou.
Apesar do avanço, o ex-embaixador destacou que as relações bilaterais ainda enfrentam obstáculos significativos, especialmente no âmbito comercial. “Na minha visão, nós não podemos dizer que as relações estão normalizadas, porque não há nenhum contato formal de negociação sobre as questões comerciais”, explicou Barbosa. Ele lembrou que 22% das exportações brasileiras para os Estados Unidos ainda estão taxadas com 40% de tarifa adicional, além dos 10% iniciais.
Negociações pendentes e decisões unilaterais
Rubens Barbosa ressaltou que, na última conversa telefônica entre Lula e Trump, o presidente brasileiro fez três solicitações: a marcação de uma visita, a eliminação das sanções da Lei Magnitsky e moderação na questão da Venezuela. “Em relação à Venezuela não houve nenhuma reação do governo americano. E também em relação às negociações comerciais, até agora, apesar das promessas do Marco Rubio para o Mauro Vieira, a três ou quatro semanas atrás, até agora não houve nenhuma decisão do governo americano de iniciar essas negociações”, pontuou.
O ex-embaixador também chamou atenção para o desequilíbrio nas relações, com os Estados Unidos tomando decisões unilaterais. “Os Estados Unidos impôs taxações, impôs sanções e não está negociando. E quando interessa a ele por alguma razão, o presidente Trump elimina restrições, sanções impostas sobre o Brasil”, observou.
Questionado se o Brasil deveria fazer algum gesto para avançar nas negociações, Barbosa foi enfático: “Eu acho que o Brasil não tem que fazer gesto nenhum para os Estados Unidos, tem que aguardar”. Para ele, como todas as decisões até o momento foram unilaterais por parte dos americanos, cabe aos EUA estabelecer um contato formal para marcar reuniões sobre comércio exterior e apresentar suas demandas.
O ex-embaixador classificou a atual situação como “uma das crises graves ao longo dos 200 anos de relações entre Brasil e Estados Unidos”, embora tenha ressaltado que houve outras crises “talvez até mais graves do que essa”. Barbosa mostrou-se confiante de que a crise será superada, mas reafirmou que as relações “não estão normalizadas, não serão normalizadas, enquanto o Itamaraty não tiver um acesso desimpedido ao Departamento de Estado, enquanto o Planalto não tiver uma relação normalizada com a Casa Branca”.