A escalada de tensão entre os EUA e a Venezuela continua, após tropas e veículos americanos terem desembarcado em Porto Rico na sexta-feira (5), como parte das operações em andamento no Caribe. Em entrevista à CNN, a professora e doutora em Direito Internacional Priscila Caneparo alertou, que caso Nicolás Maduro deixe o poder na Venezuela, será necessário planejar cuidadosamente um governo de transição para evitar um vácuo político que poderia desestabilizar não apenas o país, mas toda a região.
Segundo a especialista, no atual cenário, a possibilidade de Maduro abandonar o regime venezuelano é real devido a fatores que se consolidaram nos últimos anos. “O Maduro perdeu muito o apoio que ele tinha na América do Sul, principalmente em relação ao Brasil. A gente precisa relembrar que o Brasil não reconheceu, inclusive, os resultados das últimas eleições na Venezuela.”
Caneparo também lembrou que existem países dispostos a oferecer asilo e anistia a Maduro e sua família, como Cuba, Rússia e Catar. No entanto, ressaltou que o líder venezuelano tem expectativas que os Estados Unidos atendam para que ele consiga deixar o poder com segurança.
Riscos de instabilidade regional
De acordo com a professora, um vácuo de poder na América do Sul representa um grave problema, especialmente relacionado ao narcotráfico e às milícias. “Pode ocorrer convulsões sociais muito graves, como a gente já viu principalmente na América Central e também em alguns países do Caribe, que vão fazer com que haja uma instabilidade que não se reverta nas próximas décadas”, alertou.
A especialista questiona ainda quem conduziria esse processo de transição.”Ele vai ser planejado pela ala política da Venezuela que se contrapõe ao Maduro, por uma cooperação internacional entre países da América do Sul (especialmente os fronteiriços com a Venezuela), ou pelos Estados Unidos?”
Para Caneparo, uma intervenção liderada pelos Estados Unidos seria problemática, considerando as recentes declarações sobre a reconstrução da doutrina Monroe e o chamado “corolário Trump”, que indicaria uma nova fase de influência norte-americana na América Latina. “Essa influência não vem pensada na soberania dos outros Estados, vem pensada justamente em atender os interesses do MAGA, os interesses dos próprios Estados Unidos”, analisou.
A professora concluiu que o ponto focal deve ser garantir que um eventual regime de transição não piore a situação da Venezuela em termos de direitos humanos e economia, já bastante deteriorada sob o governo atual.