A nutricionista Mariana Goldfarb gravou uma campanha para o Ministério Público do Rio de Janeiro sobre violência psicológica e acabou compartilhando seu próprio relato.
O portal Metrópoles informa que a ex-companheira de Cauã Reymond já havia usado as redes sociais para falar sobre relações abusivas e agora se tornou o rosto dessa campanha, na qual detalha sua experiência como vítima, mas sem mencionar nomes.
“Percebi que estava em uma relação abusiva, acho que desde muito cedo, mas eu não sabia nomear. A violência psicológica não deixa marcas visíveis, mas, ao mesmo tempo, agora, olhando para trás, consigo ver, sim, a violência psicológica se transformando no meu corpo em formas de queda de cabelo, olho tremendo, falta de apetite, doenças como a anorexia”, começou dizendo.
“Essa tortura psicológica aparece através do tratamento de silêncio, que é insuportável. Tudo serve para te desestabilizar e é tudo sobre controle. E acho que dói muito também perceber que não é amor, e acho que nunca foi amor. É tudo sobre poder, dominação e controle”, destacou.
“Eu nunca sabia o que viria, era sempre pisar em ovos e sempre muito exaustivo fazer de tudo para que o dia terminasse bem — e não vai terminar”, acrescentou, confessando ainda que “começou a beber muito”.
“Vamos procurando subterfúgios para anestesiar a dor. Também ouvi muito das minhas amigas e do meu círculo familiar que aquilo estava errado, porque era visível. Já não era mais eu. Meu brilho tinha desaparecido, porque parece que tem alguém na sua jugular sugando tudo. Você vai diminuindo”, relembrou.
“A partir do momento em que você tem uma rede de apoio, fica mais difícil te manipular. Se você vai cortando essas pessoas que são tão importantes para você, que te lembram quem você é, fica muito mais vulnerável. E isso também é outra coisa, porque nenhuma amizade presta. Todas são ruins, invejosas, estão com ciúmes ou querem ser você. É isso que você ouve. Nenhuma presta, sua família também não presta. Há um jogo psicológico muito forte de culpa e vitimização”, continuou.
“Ouvi muito: ‘Por que você não sai? Por que você não termina?’ E eu entendo, porque foi só depois de viver isso que percebi que não é só um ‘por que não sai’. Não é uma relação saudável, não é simples sair. Existe uma dependência que acaba surgindo também. O problema dessa relação é que ela mexe com a sua identidade, com a forma como você se enxerga no mundo, com a maneira como você é. Quando você já não sabe quem é, quando sua identidade foi aniquilada, é como se virássemos um zumbi”, explicou.
“O problema de ouvir, durante muito tempo, que você não é capaz, é que você acaba acreditando nisso. Chega um momento em que ou você sai ou morre. Sua alma morre. E não só sua alma: muitas mulheres, de fato, morrem. Às vezes começa com a violência psicológica e vai aumentando. E achamos que não vai acontecer conosco, mas acontece. Eu consegui sair num momento em que eu tinha só mais 5% de oxigênio. Ou eu usava aqueles 5% naquele momento, ou ali eu ia morrer; tudo em mim ia morrer”, desabafou.
“Consegui sair nesse último suspiro. Ou era ali que eu saía, ou ficaria ali para o resto da vida, ou algo mais sério aconteceria. Demorei muito tempo para conseguir me separar porque requer muita coragem, não é pouca. Não vou mentir e dizer que é fácil. Eu demorei anos”, admitiu.
E deixou ainda alguns conselhos: “A saída existe, é possível, não é utópica. Tanta gente conseguiu, por que você não vai conseguir? Não ignore os sinais, não ache que esse é o único tipo de relação possível, porque não é. Relação saudável existe. Se você está em um lugar que te diminui, que te aperta, saia. Porque não existe nada mais importante que a sua vida”, ressaltou.
“O personagem muda, mas a dinâmica da relação permanece. Por isso é tão importante entender o que está acontecendo, o que está se passando, para que o padrão mude. Que o fulano jogar o controle em você, jogar uma garrafa de água, bater a porta com força, gritar absurdos, fazer tratamento de silêncio, te diminuir, ter ciúmes excessivos, te controlar, te podar — nada disso é normal”, concluiu.