Fortes chuvas provocaram inundações e deslizamentos de terra em toda a Ásia. Mais de mil pessoas morreram e operações de busca e resgate procuram por centenas de desaparecidos.
Milhões de pessoas enfrentam inundações intensas após as fortes chuvas provocadas por ciclones atingirem partes da Indonésia, Tailândia e Malásia.
O Sri Lanka foi atingido por uma tempestade separada, deixando algumas áreas submersas e criando a operação de resgate mais difícil já vista no país, segundo o presidente Anura Kumara Dissanayake.
“Esta é a primeira vez que todo o país é atingido por um desastre dessa magnitude”, declarou o presidente em um pronunciamento à nação. O líder do país sugeriu que a extensão da devastação superou a causada pelo tsunami asiático de 2004.
Em toda a Ásia, o mau tempo já causou a morte de pelo menos 502 pessoas na Indonésia, 355 no Sri Lanka, 176 na Tailândia e duas na Malásia, segundo autoridades, elevando o total para 1.035.
Estragos na Indonésia
Equipes de resgate indonésias estão com dificuldades para chegar às áreas mais atingidas de Sumatra, onde um ciclone causou deslizamentos de terra e inundações catastróficas.
O presidente Prabowo Subianto visitou as pessoas retiradas no norte da ilha nesta segunda-feira (1º), destacando os desafios com o abastecimento de combustível e as estradas, segundo a Antara, agência de notícias estatal da Indonésia.
Pelo menos 502 pessoas morreram, segundo dados do governo divulgados no domingo (30), e mais de 500 continuam desaparecidas.
Militares e policiais foram mobilizados para ajudar as vítimas, informou a mídia.
Imagens de vídeo mostram helicópteros entregando suprimentos em Sumatra, conhecida por suas exuberantes florestas tropicais, vulcões ativos e uma população de orangotangos criticamente ameaçada de extinção.
“Durante a enchente, tudo desapareceu”, disse à Reuters um morador de Bireuen, na província de Aceh, no extremo norte de Sumatra.
“Eu queria salvar minhas roupas, mas minha casa desabou”, acrescentou.
Maulidin, uma moradora de 41 anos do norte de Aceh, fugiu de casa com a família ao acordar com o barulho da enchente.
“Minha casa já está destruída, todos os meus pertences foram arruinados e há lama por dentro”, relatou ela à agência de notícias AFP.
Equipes de resgate tentam chegar aos moradores ilhados pelas enchentes desde terça-feira (25), quando as chuvas de monção causaram o transbordamento dos rios.
Algumas pessoas recorreram ao roubo de comida e água para sobreviver, segundo autoridades.
“Os saques aconteceram antes da chegada da ajuda humanitária”, falou o porta-voz da polícia, Ferry Walintukan, segundo a agência de notícias AP.
“Os moradores não sabiam que a ajuda chegaria e estavam com medo de morrer de fome”, acrescentou.

Caos na Tailândia
Pelo menos 176 pessoas morreram devido às condições climáticas extremas no sul da Tailândia, informou a agência de desastres do país à CNN.
Quase 2,8 milhões de pessoas foram afetadas, e as autoridades estão transportando pacientes por via aérea e enviando suprimentos essenciais, incluindo cilindros de oxigênio, para as comunidades submersas, informou a Reuters.
Amphorn Kaeophengkro e sua família de oito pessoas correram para o segundo andar de casa quando as águas da enchente invadiram no último sábado. Eles passaram 48 horas em cima de uma mesa, da máquina de lavar e do parapeito de uma janela.
“Não pensávamos em nada além de sobreviver”, falou a mulher de 44 anos à Reuters à luz de velas, enquanto sua família começava a limpar a casa após a água baixar.
“Às vezes, sentávamos na beira da janela e tínhamos que levantar as pernas para não as afundar demais”, acrescentou.
A cidade de Hat Yai, no sul do país, foi a região mais atingida na Tailândia, registrando chuvas torrenciais que ocorrem apenas uma vez a cada 300 anos.
O nível da água foi elevado a mais de 2,4 metros na terça-feira (25) e uma maternidade foi isolada com 30 recém-nascidos, segundo funcionários e autoridades.
A cidade faz parte da região de Songkhla, na Tailândia, onde o governo declarou estado de emergência na terça-feira devido às graves inundações, informou um funcionário à emissora X.
Pelo menos dez turistas, da Austrália, do Reino Unido, da China, da Malásia, de Singapura e da África do Sul, foram resgatados na província de Songkhla na sexta-feira (28), informou o Ministério do Turismo à CNN.
“A situação melhorou significativamente. Os níveis da água recuaram quase completamente, restando apenas algumas áreas alagadas”, disse um porta-voz.

Prejuízos no Sri Lanka
Mais de 1,1 milhão de pessoas foram afetadas pelo ciclone Ditwah, que provocou deslizamentos de terra e inundações na sexta-feira (28), segundo a agência de notícias Reuters.
Pelo menos 355 pessoas morreram e outras 366 continuam desaparecidas, segundo o Centro de Gestão de Desastres do Sri Lanka.
Mais de 25 mil casas foram destruídas e 147 mil pessoas foram obrigadas a se abrigar em refúgios temporários administrados pelo governo, informou a AP.
Algumas famílias estão ilhadas há quatro dias, sem energia elétrica ou sinal de telefone para pedir ajuda, disse Moses Akash De Silva, diretor da Fundação Voz para os Sem Voz, à CNN nesta segunda-feira (1º).
A organização beneficente já forneceu 4 mil refeições para famílias que perderam suas casas perto de Colombo, na costa oeste da ilha.
De Silva e voluntários compraram ingredientes em barcos nas águas da enchente, preparando refeições com peixe, carne ou ovo com curry e arroz.
Quando as águas baixarem e as famílias retornarem para suas casas, a fundação fornecerá alimentos não perecíveis, como arroz e farinha, e itens domésticos como fogões a gás e colchões para apoiá-las em seus esforços de reconstrução, disse De Silva.
“Há uma demanda enorme e muitas pessoas precisam recomeçar do zero”, afirmou ele à CNN. “A última vez que tivemos enchentes severas foi em 2016 e esta é dez vezes pior.”
“Está ensolarado hoje, mas ainda há um grande risco de deslizamentos de terra”, acrescentou.
Ruvinda Bernard, agente de viagens e voluntária da organização beneficente, acrescentou: “Ontem, recebemos uma ligação de três famílias ainda presas em um telhado, sem como descer.”
“O clube de remo de Colombo disse que tinha um barco, então ligamos para a força-tarefa especial da polícia para providenciar um caminhão para transportá-lo até a água e resgatá-lo.”
Enquanto isso, Mallika Kumari estava entre as mais de 78 mil pessoas transferidas para centros de acolhimento, a maioria instalada em escolas, depois que sua casa foi rapidamente inundada, segundo a Reuters.
“Eu soube do alerta de inundação pela TV, mas nunca imaginamos que o rio transbordaria tão rápido. Saímos correndo de casa sem nada”, falou Mallika aos repórteres.
“Nem tomamos café da manhã. Dois dos meus filhos pegaram gripe. Preciso comprar remédios para eles. Trouxe alguns sacos de lixo para recolher as roupas deles’, acrescentou.
Na correria, Mallika deixou seu gato para trás, que foi resgatado por um barco da marinha e levado para terra firme.
Selvi, uma moradora de 46 anos do bairro de Wennawatte, em Colombo, fugiu de casa com quatro sacolas de roupas e outros pertences.
“Minha casa está completamente alagada. Não sei para onde ir, mas espero que haja algum abrigo seguro para onde eu possa levar minha família”, disse ela à AFP.
Na Mesquita Dalugala Thakiya, voluntários preparavam marmitas de arroz com frango e curry de lentilha para as vítimas da enchente.
“Estamos recebendo mais pedidos de comida porque as pessoas que trabalham em empregos diários não conseguem encontrar trabalho e estão com poucas economias”, afirmou Risham Ahmed, organizadora de refeições, à Reuters.
“Elas estão preocupadas com como reconstruir suas vidas”, acrescentou.

Transtornos na Malásia
Na Malásia, pelo menos duas pessoas morreram após uma tempestade tropical atingir a costa pouco depois da meia-noite de sexta-feira (28), no horário local, informou a agência de notícias Reuters.
Cerca de 34 mil pessoas foram retiradas antes da tempestade, mas Gon Qasim e seu marido não tiveram a mesma sorte, ficando ilhados em um campo no norte do estado de Perlis no último fim de semana, quando a enchente bloqueou sua rota de fuga.
O casal de idosos foi resgatado por um de seus filhos e levado para um centro de retirada na capital do estado, Kangar, onde centenas de famílias se abrigavam em tendas fornecidas pela agência nacional de gestão de desastres, informou a Reuters.
“Eu estava lá dentro e não conseguia sair. Quando saí, não havia outro lugar para ficar a não ser o campo”, falou Gon, de 73 anos, aos repórteres, relembrando seu sofrimento em uma entrevista na quarta-feira (26).
“A água estava como o oceano. Era assim que parecia.”
Mudanças climáticas
O Sudeste Asiático, que inclui Indonésia, Tailândia e Malásia, é uma das áreas mais vulneráveis às mudanças climáticas, alertaram cientistas.
Os extremos climáticos atuais na região podem ser resultado da interação de dois sistemas ativos: um tufão nas Filipinas, e a formação incomum de um ciclone, no Estreito de Malaca, disseram meteorologistas à Reuters.
Em outras partes do Sudeste Asiático, neste mês, enchentes mortais devastaram partes do Vietnã, onde inundações e deslizamentos de terra mataram dezenas de pessoas.
Também neste mês, as Filipinas sofreram com outros dois tufões mortais em uma semana, que mataram centenas de pessoas e forçaram a retirada de mais de 1,4 milhão.
Neste verão, a região também viu as temperaturas atingirem níveis sem precedentes, com pouco alívio do calor e da umidade implacáveis, falou o climatologista Maximiliano Herrera à CNN.