Unicamp: saiba como “Adolescência”, da Netflix, virou tema de redação

A segunda fase da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) deste domingo (30) abriu a proposta de redação com uma referência direta à série “Adolescência”, da Netflix.

A prova mencionou a trama de um jovem que, após sofrer bullying e consumir conteúdos ligados à machosfera e ao movimento “Redpill”, desenvolve comportamento violento —um exemplo de como subculturas digitais misóginas moldam percepções, relações e atitudes no cotidiano.

A partir desse ponto, o exame pediu que o candidato analisasse o fenômeno da machosfera, grupo de comunidades e influenciadores que difundem discursos antifeministas nas redes sociais, aplicativos de vídeo, fóruns e podcasts.

A Unicamp relacionou o tema ao papel dos algoritmos, à circulação de conteúdos de ódio e à influência desses ambientes na formação de identidades juvenis. A escolha se alinha a uma tendência de cobrar leitura crítica do ambiente digital.

Para Paula Nogueira, professora de língua portuguesa e redação do Objetivo, propostas desse tipo aproximam debates atuais de questões estruturais. “O exame tem apresentado temas que permitem relacionar fenômenos atuais com discussões mais amplas, e isso exige do candidato leitura atenta e capacidade de argumentação.”

A professora diz ainda que a menção à série “Adolescência” reforça o esforço da Unicamp em conectar conteúdos culturais ao debate sobre violência de gênero e manipulação digital.

“A obra mobiliza reflexões ao mostrar um jovem que consome conteúdos da machosfera e do movimento ‘Redpill’, desenvolve comportamento violento e exemplifica a influência nociva dessas subculturas.”

Paula também observa que a prova relacionou esse cenário a casos reais de ataques contra mulheres em países como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.

“Esses episódios mostram que a violência motivada por conteúdos misóginos é um problema global e crescente. Políticas públicas, intervenções jurídicas e ações educativas são essenciais para conter esse avanço e prevenir feminicídios.”

Paula prossegue. “A machosfera reforça e naturaliza a violência simbólica contra as mulheres, contribuindo para a legitimação de práticas de assédio, humilhação e até violência física. Trata-se, portanto, de um fenômeno que ultrapassa o plano discursivo e afeta concretamente a vida das mulheres.”

Paula acrescenta que uma análise psicológica citada no exame, feita por um professor da USP (Universidade de São Paulo), aponta que indivíduos alinhados ao “Redpill” frequentemente enfrentam quadros depressivos.

“Esse contexto ajuda a entender como a violência praticada por esses grupos não é apenas expressão de misoginia, mas também reflexo de fatores emocionais e sociais que têm impacto direto na vida coletiva.”

Tema relevante

O tema é extremamente relevante para os vestibulares, segundo Paula, pois se articula com debates atuais sobre cidadania digital, ética, violência de gênero, formação de identidades juvenis e funcionamento dos algoritmos.

Além disso, ela diz, dialoga com áreas como sociologia, filosofia, comunicação e educação, o que amplia sua capacidade de gerar análises complexas e bem fundamentadas.

“Para os jovens, discutir machosfera significa enfrentar processos de manipulação digital, discursos misóginos naturalizados e modelos tóxicos de masculinidade que circulam nas redes.”

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