O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resistiu a pressões, priorizou a lealdade de quem já trabalha com a cúpula política do PT há anos e mirou as eleições de 2026 ao indicar o advogado-geral da União, Jorge Messias, para a vaga deixada por Luís Roberto Barroso no STF (Supremo Tribunal Federal).
A indicação foi interpretada como um recado de Lula ao Senado. Apesar da pressão do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), em favor do nome de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Lula optou por Messias, sem deixar que a insistência de ala do Senado interferisse nessa escolha, que é uma prerrogativa constitucional da Presidência da República.
Horas após o anúncio, Alcolumbre afirmou que colocará em votação, na próxima terça-feira (25), um projeto sobre a aposentadoria de agentes de saúde com potencial impacto bilionário nas contas públicas.
Diante da relação fragilizada entre Lula e Alcolumbre, aliados do mandatário chegaram a defender que ele deixasse a indicação para 2026, a fim de evitar desgastes ao nome de Messias. Até agora, Alcolumbre não sinalizou quando pretende pautar a sabatina do escolhido de Lula ao Supremo.
A aprovação do Senado é obrigatória para que Messias assuma a cadeira na Corte. Governistas afirmam que ele reúne todos os requisitos. A oposição tenta desqualificá-lo, alegando que teria se omitido diante de alertas internos sobre fraudes no INSS. Embora Messias não seja o favorito de parte dos senadores, a última rejeição a um indicado ao STF ocorreu há quase 130 anos.
Ainda assim, a escolha provocou incômodo até dentro da esquerda, que queria mais diversidade — anúncio que, inclusive, ocorreu no Dia da Consciência Negra. A indicação foi selada nesta quinta-feira (20), em uma reunião fora da agenda no Palácio da Alvorada.
Natural de Recife (PE), Messias tem 45 anos e integra a Advocacia-Geral da União desde 2007, onde começou como procurador-geral da Fazenda Nacional. Ganhou notoriedade pública em 2016, ao ser chamado de “Bessias” pela então presidente Dilma Rousseff (PT), de quem era subchefe para Assuntos Jurídicos no Planalto. Ao longo da carreira, consolidou-se como um aliado leal ao PT e como um dos homens de confiança de Lula.
À frente da AGU, Messias obteve vitórias fiscais bilionárias para o governo, liderou a defesa da gestão nas crises envolvendo IOF e emendas parlamentares — em algumas delas, em atuação próxima ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad — e foi voz ativa contra o tarifaço dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Nos últimos anos, também provou ter amplo trânsito político em Brasília, dialogando com diferentes setores.
Nas redes sociais, Lula afirmou ter “certeza” de que Messias continuará defendendo a Constituição e o Estado Democrático de Direito. O indicado, por sua vez, agradeceu a confiança do presidente e o apoio recebido.
Outro ponto a favor de messias é o fato de ser evangélico, da igreja Batista. De olho nas eleições de 2026, Lula quer diminuir sua rejeição perante o grupo.
Depois do anúncio oficial, Messias chegou a ser parabenizado por André Mendonça, pastor e ministro nomeado ao Supremo por Jair Bolsonaro (PL).
Mesmo assim, líderes evangélicos de oposição afirmam que Messias não representa o grupo.
A perspectiva é de que ele poderá se alinhar às pautas de costumes defendidas por evangélicos, mas que tende a acompanhar a gestão Lula em debates políticos e econômicos.