Um dos principais pontos de atrito entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e a população americana neste segundo mandato do republicano é a relação do presidente com o Jeffrey Epstein, um criminoso sexual condenado que cometeu suicídio em 2019, enquanto aguardava julgamento por acusações federais de tráfico sexual.
Durante a campanha de 2024, Trump afirmou que consideraria divulgar arquivos do governo relacionados a Epstein.
Porém, em julho, o Departamento de Justiça afirmou que não há evidências de que o financista tinha uma “lista de clientes” ou que foi assassinado, ressaltando que não divulgariam mais documentos.
Isso gerou revolta tanto de críticos quanto de apoiadores do presidente, que exigiram maior transparência da Casa Branca sobre o assunto.
Um comitê de democratas da Câmara tem publicado documentos que revelam mais detalhes da relação entre os dois — por mais que nada indique que Trump esteja envolvido nos negócios criminosos de Epstein.
Assim, o líder republicano sancionou o projeto de lei para divulgar todos os arquivos relacionados ao caso nesta quarta-feira (19).
Entenda o que são os “Arquivos de Epstein”
Durante as investigações e o processo sobre tráfico sexual contra Jeffrey Epstein e sua cúmplice e ex-namorada Ghislaine Maxwell, os procuradores federais reuniram milhões de documentos.
Os “Arquivos de Epstein” contêm mais de 300 gigabytes de dados, documentos, vídeos, fotografias e áudios armazenados no principal sistema eletrônico de gerenciamento de casos do FBI, a agência federal de investigações dos EUA, o “Sentinel”.
Esses registros incluem relatórios de investigação e documentos da apuração original do FBI em Miami.
A maior parte dos registros viria da segunda investigação realizada pelo escritório do FBI em Nova York, incluindo memorandos sobre a apuração e possíveis alvos, locais a serem revistados, registros a serem solicitados por intimação e centenas de páginas de “formulários 302”, que são os documentos que os agentes do FBI usam para registrar o que testemunhas, vítimas e suspeitos disseram em entrevistas com os investigadores.
Um grande acervo de documentos já foi divulgado publicamente por meio da abertura de processos cíveis, do julgamento criminal de Maxwell e de reportagens.
Porém, diversas figuras da mídia têm sugerido há anos que o governo dos Estados Unidos está escondendo segredos relacionados a Jeffrey Epstein.

Muitas versões dessa teoria da conspiração afirmam que a Casa Branca está encobrindo uma lista de homens poderosos que também cometeram crimes hediondos.
Essas teorias se referem a uma suposta “lista de clientes” de Epstein, que teria o nome de diversas pessoas poderosas relacionadas ao financista.
Entretanto, a repórter com as melhores fontes sobre o assunto, Julie K. Brown, do Miami Herald, já pontuou anteriormente que “aqueles que trabalharam com o FBI no caso por décadas dizem não haver evidências de que Epstein manteve um livro ou uma lista de clientes envolvidos em sua operação de tráfico sexual”.
Além disso, a inclusão do nome de uma pessoa em arquivos relacionados ao caso não indica, por si só, que ela tenha sido acusada de qualquer irregularidade.
Jeffrey Epstein, bilionário condenado por abuso sexual
Jeffrey Epstein, natural de Nova York, começou sua carreira com uma breve passagem como professor em uma prestigiada escola particular.
Não demorou muito para que ele ingressasse no ramo de bancos de investimento. Ele trabalhou no Bear Stearns antes de abrir sua própria empresa em 1982.
Na companhia, Epstein atendia exclusivamente clientes com patrimônio superior a US$ 1 bilhão, segundo reportagem da CNN.
Na década de 1990, ele já havia acumulado propriedades e apartamentos em diversos países, segundo documentos judiciais, incluindo uma ilha particular no Caribe. Também convivia com algumas das pessoas mais ricas e poderosas do mundo.
Entre essas pessoas estavam o então príncipe Andrew, o ex-presidente Bill Clinton e Donald Trump, todos os quais negam qualquer irregularidade relacionada ao financista.

Detalhes da suposta vida secreta de Epstein vieram à tona pela primeira vez em 2005, quando várias meninas menores de idade o acusaram de se oferecer para pagar por massagens ou atos sexuais em sua mansão em Palm Beach.
Depoimentos de um grande júri divulgados anos depois incluíram acusações de que Epstein, então na casa dos 40 anos, havia estuprado adolescentes de até 14 anos.
Ele conseguiu evitar ser acusado na esfera federal ao firmar um acordo para cumprir 13 meses de prisão por acusações estaduais de prostituição e se registrar como agressor sexual.
Uma revisão do Departamento de Justiça concluiu posteriormente que o então procurador federal Alex Acosta, que supervisionou o acordo, demonstrou “falta de bom senso” ao fechá-lo. Acosta posteriormente atuou como secretário do Trabalho de Trump em seu primeiro mandato.
Entretanto, em 2018, dezenas de outras mulheres alegaram que Epstein havia abusado delas.
Essas denúncias levaram o Departamento de Justiça a abrir uma nova investigação contra o financista, e ele foi acusado em Nova York por tráfico sexual de dezenas de meninas menores de idade menos de um ano depois — ele se declarou inocente.
Em agosto de 2019, Jeffrey Epstein foi encontrado inconsciente em sua cela no Centro Correcional Metropolitano de Nova York. Ele foi levado a um hospital, onde foi declarado morto. A causa da morte foi considerada suicídio.
Nos anos seguintes, o Departamento de Justiça dos EUA e tribunais divulgaram cronologias e centenas de documentos que expuseram os detalhes de seus crimes. Esses arquivos incluíam um conjunto de registros de voos que listavam quem havia visitado a ilha particular de Epstein.
Teorias da conspiração sobre suicídio de Epstein
Quase imediatamente após a morte de Jeffrey Epstein, o público começou a questionar se ele realmente havia cometido suicídio ou pessoas poderosas o teriam assassinado para impedir a divulgação de material incriminador.
Outro ponto que alimentou essas teorias da conspiração foi o fato de as autoridades não terem conseguido estabelecer fatos básicos nos dias seguintes ao caso, como por que o companheiro de cela do financista foi transferido um dia antes de sua morte, o que as imagens de vigilância mostravam, quem encontrou Epstein naquela manhã e o paradeiro dos dois guardas que deveriam o estar vigiando.

Além disso, o laudo de autópsia também gerou confusão, pois as autoridades afirmaram que as fraturas no pescoço dele poderiam, teoricamente, ser resultado de enforcamento ou estrangulamento.
Fotos de um lençol transformado em uma corda e uma aparente carta de suicídio também não convenceram aqueles que estavam céticos em relação ao caso.
De toda forma, um órgão de fiscalização interno do Departamento de Justiça conduziu uma investigação que durou anos e publicou um relatório de quase 130 páginas, que detalha meticulosamente o que aconteceu na prisão de Manhattan no dia da morte de Epstein e expõe as múltiplas falhas do Departamento Federal de Prisões.
O relatório concluiu que não havia evidências que rebatessem a “ausência de crime” na morte de Epstein – ou seja, que ele havia cometido suicídio.
Também foram divulgadas 10 horas de imagens de uma câmera de segurança da prisão que mostram que ninguém entrou na cela de Epstein no dia em que ele cometeu suicídio.