Em meio à tensão no Caribe e no Pacífico devido ao desdobramento militar dos Estados Unidos — em uma operação que Washington descreve como um esforço contra o narcotráfico —, o OIJ (Organismo de Investigação Judicial) da Costa Rica anunciou, na terça-feira (4), que as autoridades desferiram um golpe histórico contra o crime organizado no país.
Segundo o comunicado oficial, o OIJ mobilizou, na terça-feira, 1.200 agentes distribuídos em 67 operações de busca em diferentes partes da Costa Rica para desarticular o cartel do Caribe Sul, uma organização criminosa — segundo o governo — dedicada ao tráfico internacional de cocaína e que leva o nome de uma região costeira costarriquenha.
A polícia judicial classifica a “Operação Traição” como a maior de sua história.
De acordo com Michael Soto, subdiretor do OIJ, as investigações começaram em março de 2022, após o que ficou conhecido como o massacre de Matama, ocorrido na cidade de Limón (na região do Caribe), no qual oito pessoas morreram.
A polícia judicial detalhou que, no âmbito da investigação, já haviam sido presas cinco pessoas, entre elas dois irmãos — um deles, o suposto líder, detido no Reino Unido em dezembro de 2024, com uma ordem de captura internacional emitida pela Corte do Distrito Leste do Texas; o outro foi capturado em 27 de agosto passado em Curridabat, uma localidade situada a leste de San José, capital da Costa Rica.
Ambos enfrentam processos de extradição para os Estados Unidos por narcotráfico. Na terça-feira, as autoridades prenderam 29 pessoas e 15 estão foragidas.
Segundo Soto, a organização apresenta todos os componentes e características de uma estrutura criminosa transnacional: um cartel organizado com logística terrestre, marítima, lavagem de dinheiro, setor jurídico e uso de tecnologia.
O funcionário afirmou que a estrutura criminosa “recebia carregamentos de drogas para revendê-los a outros narcotraficantes já conhecidos do país e, além disso, já possuía uma rota para o envio de drogas à Europa e aos Estados Unidos”.
Ele destacou que a organização tinha um braço armado e controlava parte das costas do Pacífico e do Atlântico da Costa Rica.
Tensão no Caribe e no Pacífico
A megaoperação foi realizada em um contexto de tensões no Caribe e no Pacífico devido aos ataques dos Estados Unidos contra embarcações em águas internacionais. Washington argumentou que os navios transportavam entorpecentes, sem apresentar provas que sustentem essas alegações.
O presidente Donald Trump anunciou na terça-feira um novo ataque contra uma embarcação em águas internacionais do Pacífico.
Até o momento, 67 pessoas morreram nessas operações, que vêm sendo realizadas sem procedimentos judiciais nem uma declaração de guerra do Congresso dos Estados Unidos.
A situação também tem tensionado as relações entre os EUA e a Venezuela, já que Washington acusa o governo do presidente Nicolás Maduro de estar cooptado pelos cartéis de drogas. Caracas nega essas acusações e afirma que, na realidade, o que se busca é uma mudança de regime.
Apreensão milionária
De acordo com o OIJ, com as ações policiais iniciadas na terça-feira, pretende-se apreender artigos e bens imóveis avaliados em cerca de 2.000 milhões de colones, aproximadamente 4 milhões de dólares, incluindo 40 propriedades — entre elas 7 condomínios de luxo —, 73 veículos e embarcações.
A polícia judicial afirma que, desde o início das investigações, foram confiscadas 13,7 toneladas de drogas, principalmente cocaína e maconha, em diferentes partes do mundo.
O órgão informou que, para os operativos, contou com o apoio do Ministério de Segurança Pública, da Polícia Municipal de San José e do Ministério Público, assim como informações da Polícia Nacional da Colômbia, da Polícia Nacional do Panamá, de suas equivalentes na Espanha, no Reino Unido e na França, e da Administração de Controle de Drogas dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês).
Nos últimos anos, a Costa Rica tem trabalhado para reduzir homicídios e crimes violentos, muitos deles atribuídos pelas autoridades judiciais a confrontos entre gangues criminosas. De janeiro deste ano até 5 de novembro, o OIJ registrou 746 homicídios, dos quais 496 foram relacionados a acertos de contas por narcotráfico e vinganças.
Em 2023, o número atingiu um recorde histórico para a Costa Rica, com 905 assassinatos, e em 2024 a quantidade foi de 880, a segunda maior da história do país.