O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viaja para a Colômbia nesta semana para participar da 4ª Cúpula da Celac (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos), no domingo (9).
A presença do petista foi anunciada de última hora e, durante o evento, ele deve discutir a questão da presença militar norte-americana na Venezuela.
O anúncio de que o tema seria discutido foi feito pelo próprio Lula na terça (4).
Segundo o chefe do Executivo, a reunião da Celac “só faz sentido” se a questão dos navios de guerra dos Estados Unidos for discutida.
Na avaliação da secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, a embaixadora Gisela Padovan, é “natural” que o tema seja discutido — embora não seja esse o foco da cúpula.
“O tema será discutido. Agora, como será na declaração é difícil dizer. É óbvio que o tema será discutido porque é um tema da região, é um tema grave”, disse Padovan a jornalistas ao apresentar informações sobre a viagem do presidente.
De acordo com a diplomata, o foco do Brasil na cúpula será em fazer uma “análise regional”. No entanto, ela ressalta, o Brasil apenas se colocará como um interlocutor entre Venezuela e Estados Unidos se for solicitado, mas deixou claro que o governo brasileiro está “à disposição”.
Ao ser questionada sobre o que o Brasil poderia fazer em meio ao conflito, Padovan citou “controles democráticos” do Mercosul (Mercado Comum do Sul), mecanismos que podem ser utilizados caso necessário.
Venezuela X EUA
Em outubro, os EUA endureceram o discurso contra a Venezuela.
Além disso, o presidente Donald Trump confirmou ter autorizado operações da CIA, a agência de inteligência americana, dentro do país comandado por Nicolás Maduro.
Historicamente, o Brasil adota uma postura diplomática alinhada com a tradição de mediação em conflitos e defendendo a não interferência em assuntos domésticos de outros países.
No entanto, Lula tem subido o tom contra a presença militar no país.
A embaixadores de outros países, o chefe do Executivo disse que que “intervenções estrangeiras” na América Latina podem causar “danos maiores do que o que se pretende evitar”.
4ª Cúpula da Celac
A cúpula será realizada em Santa Marta, cidade ao norte da Colômbia, no domingo (9) e na segunda-feira (10) da próxima semana.
Foram convidados para participar do encontro 33 países da América Latina e do Caribe e 27 da União Europeia.
O foco da cúpula é justamente o fluxo comercial entre as duas regiões.
Para o evento, é esperado que sejam assinadas duas declarações:
- Declaração de Santa Marta: versará sobre temas gerais. Estão na mesa de negociações assuntos envolvendo comércio e investimentos, combate ao crime organizado, segurança alimentar, educação e pesquisa, transição digital e clima;
- Mapa do caminho: passo-a-passo do que deve ser feito para implementar os princípios previstos na declaração principal.
Além disso, outros documentos de livre adesão (para os países que quiserem aderir) devem ser apresentados: uma declaração sobre segurança cidadã; e outra sobre política de cuidados. Até o momento, ainda não foram apresentados detalhes sobre cada uma delas.
Posse na Bolívia
A cúpula ocorre durante a realização da COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), em Belém, e um dia antes da posse de Rodrigo Paz Pereira, novo presidente da Bolívia.
A posse será realizada no sábado (8). Com isso, chefes de Estado de alguns países optaram por não comparecer à cúpula para marcar presença no evento.
No caso do Brasil, irá à Bolívia o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Ele vai e volta ao Brasil no mesmo dia.
Segundo Padovan, enviar o vice e não o presidente foi uma “decisão difícil”, considerando que a maior fronteira do Brasil é com a Bolívia.
A embaixadora avaliou que é um “balanço natural” que alguns países tenham escolhido ir à posse e não ao evento, devido às relações com o país.