Israel avalia que o Hamas pode não conseguir encontrar e devolver todos os corpos de reféns mortos, de acordo com três fontes israelenses. Isso pode complicar os esforços para chegar a um acordo para encerrar a guerra na Faixa de Gaza.
Fontes afirmam que o governo israelense está ciente de que o Hamas pode não saber a localização ou não conseguir recuperar os restos mortais de alguns dos corpos de 28 reféns.
Segundo uma fonte, o número de corpos que podem não ser devolvidos está entre sete e nove, enquanto outra fonte o estimou entre 10 e 15.
Uma das fontes pontuou que as avaliações se baseiam em relatórios da inteligência de Israel, bem como em mensagens do Hamas e de mediadores durante as negociações. O motivo da diferença entre os números não ficou claro.
Acredita-se que 20 reféns estejam vivos, havendo sérias preocupações com o bem-estar de dois deles.
Durante as últimas negociações para um acordo para libertação de reféns e cessar-fogo em Sharm El-Sheikh, no Egito, Israel exigiu o retorno de todos os reféns — vivos e mortos — como condição para o fim da guerra.
As três fontes israelenses dizem que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu gabinete sabem há meses que o Hamas não conhece o paradeiro de alguns dos reféns mortos e, portanto, podem não conseguir atender a essa demanda. A CNN solicitou comentários ao governo israelense e aguarda retorno.
Os Estados Unidos também sabem da questão há algum tempo. Negociadores do governo de Joe Biden estavam cientes de que alguns reféns estavam sob poder de facções em Gaza sobre as quais o Hamas não exerce controle total.
Barbara Leaf, secretária de Estado Adjunta para Assuntos do Oriente Médio no governo do presidente Joe Biden, disse à CNN: “Desde o início, eles [Hamas] não tiveram controle sobre todos os reféns”.
Leaf afirmou que recuperar os restos mortais de algumas das pessoas mortas pode ser difícil. “É muito mais provável que consigam recuperar todos os reféns vivos”, pontuou.
Como isso pode afetar cessar-fogo em Gaza?
Não está claro como essa incerteza sobre a entrega de todos os corpos de reféns pode afetar a atual rodada de negociações no Egito.
Uma fonte israelense ressaltou que a posição oficial de Israel é que o Hamas é responsável por todos os reféns mortos e que o governo israelense espera que todos eles sejam devolvidos.
A fonte ponderou que o Hamas pode usar isso para atrasar a implementação de quaisquer acordos de cessar-fogo e para insistir que não devolverá todos os reféns até que Israel concorde com uma retirada militar total de Gaza.
Outra fonte israelense expressou preocupação de que Netanyahu possa usar a incerteza como pretexto para inviabilizar as negociações.
Críticos do primeiro-ministro, incluindo líderes da oposição e familiares de reféns, o acusaram diversas vezes de minar deliberadamente as discussões para encerrar a guerra, alegando que ele impõe novas condições por motivos políticos, principalmente quando os acordos parecem próximos.
No entanto, outras fontes destacam que, dada a forte pressão regional e dos Estados Unidos para garantir um entendimento, Netanyahu provavelmente usará a questão como alavanca para os detalhes finais de um acordo, em vez de acabar com toda a estrutura da proposta de 20 pontos do presidente dos EUA, Donald Trump.
Incerteza sobre reféns lembra outros casos em Israel
A incerteza envolvendo reféns mortos é particularmente sensível na sociedade de Israel, pois lembra casos anteriores de soldados desaparecidos.
O tenente Hadar Goldin foi morto e teve o corpo levado pelo Hamas durante a guerra de sete semanas em Gaza, em 2014.
Seu corpo nunca foi entregue e agora está entre os 48 reféns vivos e mortos que Israel exige que sejam devolvidos. A família de Goldin faz campanha há anos pelo retorno dos restos mortais, citando o compromisso de Israel com o princípio de não deixar ninguém para trás em conflitos.
Ron Arad, um navegador da Força Aérea Israelense, foi capturado quando seu jato foi abatido sobre o Líbano em 1986. Quase quatro décadas depois, seu desaparecimento não foi resolvido e continua sendo um dos símbolos mais dolorosos de Israel.
Um dos confidentes mais próximos de Netanyahu, Natan Eshel, escreveu uma mensagem a um grupo de jornalistas na semana passada, referindo-se às negociações em Gaza e dizendo que “haverá alguns Ron Arads” — uma indicação de que figuras importantes do establishment político israelense acreditam que os corpos de alguns reféns jamais serão devolvidos.
*reportagem adicional de Tal Shalev