Relatório da ONU indica crise hídrica global com secas e enchentes; entenda

O planeta está entrando em uma era de extremos climáticos cada vez mais severos, com secas prolongadas e enchentes históricas se tornando comuns. É o que revela o relatório “Estado dos Recursos Hídricos Globais 2024”, da Organização Meteorológica Mundial (OMM), vinculada à ONU.

O documento traça um panorama alarmante da situação hídrica no mundo, mostrando que apenas um terço das bacias hidrográficas registrou condições normais em 2023. As demais enfrentaram desequilíbrio, seja por excesso ou escassez de água.

O relatório aponta que 2024 foi o ano mais quente já registrado, com temperatura média 1,55 °C acima dos níveis pré-industriais.

O fenômeno climático El Niño teve um papel central nesse cenário, intensificando tanto as secas quanto as enchentes ao redor do planeta. O aquecimento global continua sendo um agravante decisivo, tornando os eventos extremos mais frequentes e intensos.

Pela terceira vez consecutiva, todos os glaciares monitorados no mundo perderam massa, o que corresponde ao derretimento de água equivalente a 180 milhões de piscinas olímpicas, volume que foi parar nos oceanos, contribuindo para a elevação do nível do mar.

No Brasil, os dois extremos foram sentidos com intensidade em 2024. A seca extrema na Amazônia, iniciada em 2023, comprometeu cerca de 59% do território nacional. Rios secaram, o transporte fluvial foi prejudicado e comunidades ribeirinhas ficaram isoladas.

Os principais reservatórios de água do país, como Serra da Mesa (GO) e Sobradinho (BA), operaram com níveis perigosamente baixos, agravando o risco de apagões e contribuindo para o aumento nas contas de luz. Em resposta à escassez, o país ativou a bandeira vermelha patamar 2, a mais cara da escala.

Enquanto isso, no Sul do país, enchentes históricas causaram a morte de 183 pessoas e deixaram milhares de desabrigados, configurando uma das maiores tragédias climáticas da história brasileira. Esses eventos reforçam a tendência de que extremos hídricos não são mais exceções, mas parte de uma nova realidade, o chamado “novo normal” climático.

O relatório também detalha situações críticas em diversas regiões do mundo. O sul da África sofreu com secas severas, enquanto a Europa enfrentou enchentes nunca antes registradas.

Na Ásia, ciclones recordes causaram destruição em larga escala, e o Sahel, na África Ocidental, foi atingido por chuvas intensas e inesperadas. Esses padrões evidenciam que os desequilíbrios hídricos não são localizados, mas sim globais e sistêmicos.

Especialistas alertam que o modelo de previsão do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), usado no Brasil, está defasado e ignora os impactos da crise climática.

Baseado em séries históricas antigas, ele falha em prever os novos padrões de escassez e excesso de água, o que compromete a gestão dos reservatórios e agrava a vulnerabilidade energética. Isso não só aumenta o risco de apagões, como encarece ainda mais o custo da energia, afetando toda a cadeia econômica e o bolso do consumidor.

A secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, fez um alerta: “A água sustenta nossas sociedades, movimenta a economia e é essencial para os ecossistemas. Mas está cada vez mais sob pressão. Sem dados confiáveis, estamos voando às cegas.”

FONTE

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *