Após uma semana de decisões de juros no Brasil e nos Estados Unidos, o mercado analisa as consequências do corte do Fed (Federal Reserve), enquanto a Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) manteve a Selic em 15% ao ano.
A CNN conversou com especialistas sobre as consequências das políticas monetárias para os investidores.
Sobre os ativos considerados mais seguros, o head de renda fixa da Suno Research, Guilherme Almeida, afirma que o cenário pode favorecer a troca de indexadores em títulos pós-fixados.
A perspectiva de possíveis cortes de juros do BC para 2026 pode levar papéis atrelados à Selic perderem força, enquanto aqueles ligados à inflação devem ganhar fôlego.
“Em ano de eleição, historicamente o governo que está no poder tende a gastar mais em busca de popularidade. Com risco fiscal, pode gerar aumento da pressão inflacionária e favorecer títulos indexados ao IPCA”, explica o especialista.
Já no mercado de renda variável, Almeida pontua que o corte de juros nos EUA e a manutenção da Selic no mercado doméstico atrai capital estrangeiro e pode impactar os negócios no Ibovespa.
O head de research da Eleven Financial, Fernando Siqueira, contrapõe e afirma que as bolsas podem desacelerar após a euforia gerada pela expectativa das decisões monetárias.
“Olhando no curto prazo, não vejo algum catalisador para o mercado continuar em alta, pode ter uma pausa visto que os índices já avançaram e o evento que seria positivo já aconteceu”, frisa Siqueira.
A manutenção da Selic em 15% pode impactar papéis do Ibovespa de diferentes maneiras, segundo analistas.
Entre os setores, José Áureo Viana, sócio e private banker na BLUE3 Investimentos, pontua que bancos podem se beneficiar com a margem mais elevadas, enquanto ações vincualdas a infraestrutura oferecem previsibilidade e dividendos estáveis.
Já as ações que podem ser prejudicadas pelos juros, segundo Viana, são aqueles mais dependentes do crédito — varejo e consumo discricionário, entre outros.
“Empresas altamente alavancadas e startups que ainda não geram lucros consistentes também sofrem”, completa.
As carteiras de investimento com ativos no exterior também sentem os impactos das decisões desta Superquarta.
Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, vê o corte nos EUA aumentando preço dos títulos de renda fixa de longo prazo no país, favorecendo os ganhos de quem já possui ativos da categoria.
Já em Wall Street, o especialista destaca os papéis que ganham força com o momento.
“Especialmente setores que prosperam com crédito mais barato ou que são sensíveis a taxas, como tecnologia, consumo e bens duráveis. Porém, risco de inflação ou de choques externos (commodities, cadeia de suprimentos) ainda existe”, conclui Patzlaff.
Criptos
O mercado de criptoativos, por sua vez, pode estar diante de um cenário promissor, que recentemente atingiu novos recordes.
A estrategista-chefe da Nomad, Paula Zogbi, destaca que o corte nos juros pelo Fed aumentam o apetite por risco e o mercado se beneficia de mudanças regulatórias favoráveis nos EUA, o que pode impulsionar criptomoedas como o bitcoin.
“Tudo isso pode levar o ativo a superar seu recorde recente. Mas os riscos também existem. Uma leitura mais pressionada para a inflação poderia minar a capacidade do Fed de manter o ritmo de cortes de juros”, pondera Zogbi.
Já o CEO da OKX Brasil, Guilherme Sacamone, classifica o cenário atual dos EUA — corte de juros, mercado de trabalho pressionado e inflação acima da meta — como uma “tempestade perfeita” para a alta do bitcoin.
“Com o corte de juros, aumenta o apetite a risco para altcoins também, que tem demonstrado movimentações mais expressivas e podemos ver alta em ethereum, solana e outras”, afirma Sacamone.
Outro mercado que pode se favorecer desta conjuntura, segundo o CEO da OKX Brasil, é o de ouro.
Isso porque os juros mais baixos aliados ao cenário incerto americano podem dar força aos ativos de reserva de emergência, principalmente com a desvalorização do dólar.