Bolsa nas alturas, dólar lá embaixo. Esse tem sido o modus operandi do mercado financeiro no último mês, com o Ibovespa renovando máxima histórica cinco vezes e a divisa americana chegando ao patamar mais baixo em mais de ano.
A Faria Lima, contudo, não é a única que se beneficia com o cenário — especialmente no que diz respeito à desvalorização do dólar.
Na última, a moeda chegou a R$ 5,29, menor valor desde junho de 2024. No mês, acumula quedas de 2,4%; no ano, 14%.
Especialistas consultados pelo CNN Money entendem que o momento é propício para brasileiros que querem voltar a carimbar o passaporte. A desvalorização contínua, contudo, é incerta.
Antes de mais nada
Antes de tomar decisões em relação à divisa, é importante entender o porquê de ela estar caindo.
Desde o começo de agosto, o mercado financeiro no Brasil e mundo vem antecipando um corte de juros nos Estados Unidos.
Ele aconteceu na última quarta-feira (17), com o Fed (Federal Reserve, banco central americano) cortando as taxas em 0,25 ponto, deixando-as na faixa de 4% a 4,25% ao ano.
Como os juros estavam, anteriormente, em um patamar elevado, o mercado acionário norte-americano viveu uma alocação atípica de investidores à renda fixa.
“Em mercados desenvolvidos, esse tipo de ativo é minoritário, correspondendo a, no máximo, 25% do total”, analisou Gustavo Spinola, estrategista-chefe da RB Investimentos, em entrevista à CNN.
Com a decisão do Fed, esse tipo de ativo passa a ser menos atrativo, o que faz com que investidores busquem valorização em outros mercados. Os dólares, antes confinados aos títulos públicos gringos, passam por uma emigração.
Boa notícia para o real. Com o aumento da oferta de dólar no país, o preço do câmbio cai — logo, nossa moeda valoriza. É um ciclo auspicioso: mais oferta, mais valorização, mais grana de fora a fim de surfar na alta da moeda verde-amarela.
“Com juros mais baixos, a remuneração de manter caixa em dólar perde atratividade e estimula posições em outras teses e economias”, resume Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad.
Oscilação, não queda contínua
Isso posto, o que especialistas do mercado enxergam para a divisa no futuro?
Zogbdi vê espaço para mais quedas no curto prazo. Tanto pela previsão de mais cortes nos juros nos Estados Unidos — a previsão do mercado é de mais dois cortes de 0,25 ponto até o final do ano — quanto pelas políticas econômicas imprevisíveis de Donald Trump, que levaram “a uma movimentação mais estrutural de instituições, governos e investidores rumo a uma diversificação das suas reservas de valor”, diz.
A possibilidade de manutenção da Selic a 15% até começo de 2026 também deve contribuir ao movimento, com investidores aproveitando os juros domésticos mais atrativos.
No cenário interno, contudo, é de cautela. A chegada de ano eleitoral adiciona elementos de volatilidade e incerteza, além da situação fiscal desafiadora, podem afugentar investidores e desvalorizar a moeda.
Por isso, é precipitado falar em um “pico definitivo”, sinaliza Pedro Ros, CEO da Referência Capital.
“A tendência é de oscilação, não de queda contínua”, diz.
Comprar ou não, eis a questão
Anota aí: não existe câmbio perfeito. Para os brasileiros que estão pensando em subir aos ares e pousar em terras dolarizadas, especialistas foram unânimes: o ideal é travar posição agora, aproveitando a cotação mais baixa.
“Além das viagens ficarem mais baratas, é extremamente aconselhável que, quem queira dolarizar alguma parte do patrimônio, faça imediatamente”, defende Thiago Calestine, economista e sócio da Dom Investimentos.
“Compra de passagem, seguro viagem, pousada, moeda que você tem que levar. Se você tiver fluxo de caixa, agora é o momento”, enaltece Eduardo Campos, diretor de câmbio-varejo do Banco Daycoval.
“O melhor preço é a taxa média. Justamente por isso, momentos de baixa são os melhores para fazer reserva”, adiciona.
Isso vale tanto para quem quer viajar agora quanto para quem está se planejando para uma viagem nos próximos meses.
Tudo para evitar que o consumidor “fique refém” de uma cotação específica, finaliza Paula, da Nomad. Afinal, de dor de cabeça já basta a experiência do aeroporto de Guarulhos.