Poucos superesportivos carregam em sua origem uma história tão singular quanto o Honda NSX. A produção do veículo foi resultado de ousadia tecnológica, ambição de mercado e a colaboração inesperada de um dos maiores pilotos de todos os tempos: Ayrton Senna.
Quando a Honda decidiu criar um modelo capaz de rivalizar com Ferrari e Porsche no final dos anos 1980, encontrou no piloto Ayrton Senna o parceiro ideal para transformar o protótipo em um carro lendário. O NSX foi moldado não apenas por engenheiros e projetistas japoneses, mas também pela sensibilidade do tricampeão mundial.
De acordo com o historiador Mauricio Marx, Ayrton participou dos testes, criticou pontos-chave da estrutura e ajudou a refinar cada detalhe da dirigibilidade do carro.
A visão da Honda na criação do NSX
Segundo Mauricio, a Honda sonhava em aproximar o espírito da pista do dia a dia desde os anos 1960. “Desde o começo, a visão da Honda era trazer a sensação das pistas para um carro esportivo de rua. Eles queriam brigar de frente com os carros europeus no mercado americano”, diz.
Mauricio explica como a trajetória da Honda no automobilismo foi se construindo:
- 1965: acontece a primeira vitória na Fórmula 1, apenas um ano após a estreia na categoria
- 1984: é feita a apresentação do conceito HP-X, desenvolvido em parceria com a Pininfarina, considerado o “pai do NSX”
- 1989: a Honda já tinha conquistado 4 títulos de construtores e 2 de pilotos com Nelson Piquet e Ayrton Senna. Ainda nesse ano, o primeiro NSX foi lançado.
Como Ayrton Senna influenciou no desenvolvimento do Honda NSX
Mauricio explica que foi nesse contexto, da busca por um esportivo que unisse a energia das pistas ao cotidiano, que Ayrton Senna apareceu como peça-chave. Em 1989, durante a apresentação do protótipo do NSX em Suzuka, no Japão, o piloto foi convidado a testá-lo.
O historiador conta que vestindo roupas sociais e mocassim, o piloto entrou no carro e saiu para algumas voltas rápidas. O diagnóstico surpreendeu os engenheiros.
“A Honda queria ouvir as impressões de Senna e o convidou para testar o carro no circuito. Após algumas voltas, o piloto retornou aos boxes e surpreendeu os engenheiros ao afirmar que o veículo não apresentava rigidez suficiente para um verdadeiro superesportivo, explicando que a carroceria se torcia em condições extremas de curva”, expõe Mauricio.
Esse episódio marcou o início de uma colaboração intensa. De observador, Senna passou a ser parte ativa no projeto, ajudando a moldar o carro em detalhes técnicos e de dirigibilidade.
O papel prático de Senna
De acordo com Mauricio, Senna não se limitou a dar impressões superficiais no projeto: ele se envolveu diretamente nos ajustes. Ele não apenas testava, mas dava contribuições técnicas. Toda a expertise em acertos de carros de corrida foi aproveitada pelos engenheiros. Ao mesmo tempo em que pilotava, Senna discutia modificações, sugeria soluções e ajudava a encontrar a melhor dirigibilidade”, conta Marx.
Entre as mudanças mais significativas estão:
- Aumento de 50% na rigidez estrutural do chassi, garantindo maior estabilidade em altas velocidades;
- Ajustes na suspensão dianteira de alumínio, que combinavam leveza com a precisão necessária para curvas exigentes.
O marketing em torno de Senna e o NSX
Para Mauricio, a presença de Senna também foi estratégica para a imagem da Honda. “As corridas de Fórmula 1 estavam sendo televisionadas no Japão. Os japoneses estavam apaixonados e orgulhosos com o grande sucesso da Honda nas pistas e precisavam de um grande ídolo”, conta.
O especialista ainda afirma que os japoneses se apaixonaram por Senna. “No caso, ter o piloto ligado ao carro foi fundamental tanto para as vendas quanto para a identidade do modelo.”
O legado do NSX
Ele afirma ainda que o Honda NSX conquistou respeito internacional por oferecer:
- Desempenho comparável a superesportivos europeus;
- Preço mais acessível, ampliando o público para além dos compradores tradicionais de Ferrari e Porsche.
O carro se tornou um divisor de águas. Muitos viam no modelo a chance de ter um superesportivo com o DNA de Senna, e esse peso simbólico se mostrou tão importante quanto os avanços técnicos.
Ainda hoje, o NSX é lembrado como o superesportivo que levou a Honda a outro patamar, além de ser o modelo que carrega no DNA a visão ousada de uma montadora e a genialidade de um tricampeão mundial.