Quando o relatório de empregos de julho foi divulgado em 1º de agosto, não houve nenhuma diferença para Erika McEntarfer, ex-comissária do BLS (Departamento de Estatísticas do Trabalho, em inglês), em comparação com a divulgação de outros relatórios de emprego.
Logo, ela estava a caminho de “se tornar um nome conhecido”, disse McEntarfer nesta terça-feira (16), em seus primeiros comentários públicos desde sua saída do BLS.
Trump alegou, sem provas, que o decepcionante relatório de empregos havia sido “fraudado”.
Sua palestra no Levy Economics Institute do Bard College, sua alma mater, ocorre em um momento em que surgem questionamentos sobre a integridade dos dados do governo, já que Trump busca maior controle sobre a agência e as tarifas parecem estar prejudicando a economia.
Falando para uma plateia de ex-alunos, estudantes, professores e repórteres, McEntarfer disse na terça-feira que só soube de sua demissão quando um repórter a procurou para comentar o assunto após uma publicação de Trump no Truth Social anunciando sua demissão. Ela disse que não acreditou no início.
Então, ela notou um e-mail anterior do Gabinete de Pessoal Presidencial da Casa Branca, que dizia apenas o seguinte:
“Dr. McEntarfer: Em nome do Presidente Donald J. Trump, estou escrevendo para informá-lo de que seu cargo no Departamento de Estatísticas do Trabalho foi rescindido, com efeito imediato. Obrigada pelos seus serviços.”
“Demitir seu estatístico-chefe é um passo perigoso”, disse ela. “É um ataque à independência de uma instituição indiscutivelmente tão importante quanto o Federal Reserve para a estabilidade econômica. Tem consequências econômicas graves, mas fazer isso sem aviso prévio não fazia sentido.”
“Mexer com dados econômicos é como mexer nos semáforos e desligar os sensores. Os carros não sabem para onde ir, o trânsito fica congestionado nos cruzamentos”, disse ela, em concordância com as preocupações que muitos economistas têm levantado desde sua demissão.
Antes de sua demissão, a maior preocupação de McEntarfer com os relatórios mensais de empregos e outros relatórios econômicos publicados pelo BLS era a escassez de recursos, o que dificultava a realização de pesquisas que embasassem os dados, disse ela.
Isso se tornou ainda mais evidente com a queda nas taxas de resposta às pesquisas da agência. Mas isso não afetou a precisão dos dados, afirmou ela.
“Mas, após os eventos das últimas seis semanas, receio que tenhamos que temer pela dependência (de dados) das próprias agências.”
Totalmente pega de surpresa
Antes da publicação de qualquer relatório de empregos durante seu mandato no BLS, McEntarfer e sua equipe informavam os membros da Casa Branca um dia antes da divulgação dos dados.
McEntarfer disse que “não teve a sensação” de que algo estava errado ao informar a Casa Branca no mês passado. Ela respondeu ao que considera perguntas “normais” quando economistas tentam entender novos dados, disse ela.
Ela reconheceu que as revisões para baixo nos relatórios de emprego dos meses anteriores, incluídas no relatório de emprego de julho, foram excepcionalmente grandes. Isso a levou a dedicar mais tempo durante o briefing para explicar o porquê, disse ela.
No entanto, essas revisões são consideradas uma característica e não um defeito dos dados econômicos, que são revisados com frequência — specialmente à medida que informações mais abrangentes se tornam disponíveis — para fornecer uma imagem mais clara e precisa da dinâmica em jogo.
Na terça-feira, McEntarfer afirmou que as empresas que responderam com atraso foram o principal motivo da revisão negativa que precedeu sua demissão. Essa dinâmica foi explicada por McEntarfer e sua equipe durante o briefing mensal pré-relatório de emprego à Casa Branca.
Ela disse aos economistas da Casa Branca que revisões tão grandes quanto os dados de emprego de maio e junho tendem a ocorrer “quando a economia desacelera”, disse ela. Durante o briefing, funcionários da Casa Branca perguntaram a ela: a distorção era desproporcional entre as pequenas empresas e quando foi a última vez que isso aconteceu?
“Foi uma distorção negativa bastante ampla”, disse ela, observando que a última vez que isso aconteceu foi nos primeiros meses da pandemia. As empresas provavelmente responderam à pesquisa com atraso “porque estavam ocupadas demais tentando se manter vivas”.