Não consegue fazer xixi? Médico alerta sobre causas e riscos da retenção

A dificuldade para urinar, muitas vezes, pode estar relacionada a algo temporário, como efeito colateral de alguma medicação, por exemplo. No entanto, para algumas pessoas, o problema pode estar relacionado a questões de saúde mais sérias, segundo urologista.

O problema pode ser retenção urinária, quando sua bexiga está cheia mas não consegue esvaziar. Ou sua bexiga pode estar vazia, mas você ainda sente vontade de ir ao banheiro. De qualquer forma, a experiência é a mesma — você está tentando urinar e nada sai.

Para entender o porquê, é preciso compreender um pouco da anatomia básica. Feita de fibras musculares, a bexiga é uma estrutura semelhante a um balão localizada na parte inferior do abdômen que armazena urina. Na parte inferior há uma região estreita chamada colo vesical, que se abre na uretra – o tubo que transporta a urina para fora do corpo. Nos homens, a uretra passa através da próstata antes de chegar ao pênis; nas mulheres, é mais curta e termina logo à frente da vagina.

Para que a urina flua, o músculo da bexiga precisa contrair ou apertar enquanto a saída e a uretra relaxam. Se algo interferir nesse processo — seja um bloqueio, músculos fracos da bexiga ou sinais nervosos inadequados — a urina não consegue fluir.

O que causa problemas no fluxo

Esse problema é mais comum em homens com mais de 50 anos, mas mulheres e pessoas mais jovens também podem experimentá-lo, especialmente se houver uso de medicamentos ou outras condições de saúde envolvidas.

Nos homens, a causa mais comum é o aumento da próstata bloqueando o fluxo da urina. De fato, estudos mostram que após os 70 anos, cerca de um em cada 10 homens desenvolverá retenção urinária aguda em cinco anos, e quando atingem os 80 anos, esse número aumenta para quase 1 em cada 3.

Em mulheres, problemas nervosos ou cistocele (um tipo de prolapso dos órgãos pélvicos, ou bexiga caída) podem alterar o fluxo, mas a retenção urinária aguda é muito menos comum, afetando apenas cerca de 3 em 100.000 mulheres por ano. A condição, no entanto, é mais comum em homens, devido à próstata e à uretra mais longa.

Esta não é apenas uma condição do envelhecimento. Muitos casos se resumem a algo mais cotidiano: a constipação. Quando os intestinos ficam obstruídos, podem fisicamente alterar o ângulo do colo da bexiga, essencialmente dobrando a saída.

Medicamentos são outro fator significativo. Pense nos remédios que você pode tomar para alergias ou resfriado — descongestionantes e anti-histamínicos são conhecidos por diminuir ou até mesmo interromper o fluxo urinário. Alguns antidepressivos, medicamentos para bexiga e analgésicos podem ter o mesmo efeito.

Outras causas podem incluir cálculos urinários, estreitamentos, coágulos sanguíneos e infecções que podem bloquear a saída. Para aqueles com uma condição neurológica como esclerose múltipla, diabetes, lesão na medula espinhal ou AVC, os nervos que controlam o esvaziamento da bexiga podem estar danificados.

Sinais de alerta para ficar atento

Nem todos os problemas para urinar se manifestam da mesma forma. Um jato fraco ou fluxo intermitente é uma coisa — incômodo, mas frequentemente gradual e não imediatamente perigoso.

Se você não consegue urinar de forma alguma e sua bexiga está dolorosamente cheia, sua barriga está inchada, você tentou relaxar, teve uma evacuação e ainda assim nada sai — isso é provavelmente uma emergência. Vá ao pronto-socorro imediatamente. Você pode precisar ter sua bexiga drenada com um cateter para aliviar a pressão, esvaziar a bexiga e prevenir danos aos rins.

Algumas pessoas não apresentam sintoma algum. Essa retenção “silenciosa” pode ser igualmente arriscada ao longo do tempo, levando a infecções ou problemas crônicos na bexiga se não for tratada.

Em um estudo hospitalar com pacientes do sexo masculino, aproximadamente metade apresentou retenção aguda, enquanto cerca de 30% foram diagnosticados com retenção crônica. Por isso, é importante realizar check-ups regulares com seu médico e relatar quaisquer sintomas — às vezes sua bexiga pode estar com problemas mesmo que você se sinta bem.

Como os urologistas identificam seu problema de retenção

O primeiro passo é determinar se o problema é realmente retenção — quando a bexiga está cheia, mas não consegue esvaziar — ou simplesmente a sensação de necessidade de urinar quando a bexiga já está vazia.

Essas duas situações podem parecer iguais, mas o tratamento é bastante diferente. Por isso, especialistas analisam seu histórico médico e coletam novos dados objetivos. Por exemplo, é possível verificar quanto de urina resta na bexiga após a tentativa de micção, realizar exames de urina e sangue para detectar infecções e avaliar a função renal.

Urologistas também dispõem de ferramentas que eliminam parte das suposições. Um aparelho de urofluxometria pode medir a força e o padrão do jato urinário. E, se necessário, é possível inserir uma pequena câmera (cistoscopia) na uretra e bexiga para identificar possíveis obstruções do fluxo.

Apenas esta semana, atendi um jovem que estava tendo dificuldades significativas para urinar — algo raro para sua idade. Uma rápida observação com o cistoscópio revelou uma estenose uretral, ou tecido cicatricial, que estava obstruindo o fluxo de urina.

Como urologistas, vemos problemas semelhantes constantemente: às vezes é tecido cicatricial, outras vezes uma próstata aumentada pressionando a uretra. Em mulheres, pode ser um prolapso da bexiga. Causas diferentes, mesmos resultados — o fluxo urinário é bloqueado e a bexiga não consegue esvaziar adequadamente.

Em casos agudos raros — quando alguém está com dor intensa e completamente impossibilitado de urinar — inserimos imediatamente um cateter para drenar a bexiga. No entanto, mais comumente, os pacientes apresentam sintomas leves e incômodos que se desenvolvem gradualmente ao longo do tempo.

Quando detectados precocemente, muitos desses problemas podem ser amenizados ou até mesmo resolvidos antes de se tornarem emergências.

O que você pode fazer em relação à urina

Fique atento a mudanças sutis, como jato urinário mais fraco, esforço para urinar ou idas frequentes ao banheiro durante a noite. Não considere isso apenas como sinais do envelhecimento. Revise sua lista de medicamentos com seu médico e mantenha-se hidratado. Mais importante ainda: não ignore a constipação — ela não afeta apenas seu intestino, mas também pode interferir na sua urinação.

Monitore seus hábitos no banheiro da mesma forma que você acompanha sua pressão arterial ou peso. Pequenas mudanças, quando tratadas no início, podem fazer uma grande diferença.

A conclusão (urinária)

Falar sobre dificuldades para urinar pode ser constrangedor ou desconfortável, mas é fundamental que você informe seu médico se isso estiver acontecendo com você. Afinal, ter esse problema é a forma que seu corpo encontra de pedir ajuda.

Algumas vezes, a causa pode ser simples e os sintomas desaparecerem rapidamente. Em outros casos, a causa pode ser mais complexa. É quando um médico pode ajudar a determinar se o problema é uma obstrução, um problema nervoso, um efeito colateral de medicamento ou algo completamente diferente. Seja a solução tão simples quanto mudar um medicamento ou tão complexa quanto realizar um procedimento médico para desobstruir o canal da próstata, fazer o diagnóstico precoce faz toda a diferença.

*Dr. Jamin Brahmbhatt é urologista e cirurgião robótico da Orlando Health e professor assistente na Faculdade de Medicina da Universidade da Flórida Central.

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