O dólar voltou a fechar no menor patamar em mais de um ano nesta segunda-feira (15), ao encerrar o pregão em R$ 5,322. Ao longo do dia, chegou a tocar os R$ 5,30.
A divisa acumula no ano perda de 14% ante o real e, segundo Cristiano Oliveira, diretor de pesquisa macroeconômica do Banco Pine, é a única moeda não europeia entre as nove de melhor desempenho em 2025.
O cenário é bastante diferente do observado no início do ano, quando a divisa norte-americana era negociada acima de R$ 6, na esteira da forte desvalorização do real nos últimos meses de 2024. O dólar encerrou o último ano com valorização de 27,3%.
O movimento reflete fatores domésticos, mas se deve, sobretudo, a fatores externos. Veja o que dizem analistas ouvidos pela CNN.
De olho nos juros
Desde as últimas reuniões de política monetária no Brasil e nos EUA, em julho, o real apreciou com “um ambiente externo mais favorável, marcado por dólar fraco globalmente, e pelas perspectivas de retomada do ciclo de afrouxamento monetário pelo Federal Reserve, que ampliaria o diferencial de juros a favor do Brasil”, segundo relatório de macroeconomia do Itaú BBA.
Cristiano Oliveira pondera que “a fraqueza do dólar no âmbito global explica aproximadamente metade dessa valorização. A outra metade está associada a fundamentos locais, como os ganhos nos termos de troca, o diferencial de taxa de juros e a redução do prêmio de risco país”.
Nas últimas semanas, dados indicando uma fraqueza no mercado de trabalho dos Estados Unidos têm fortalecido a tese de que o Federal Reserve, o banco central norte-americano, vai voltar a cortar suas taxas de juros após mantê-las entre 4,25% e 4,5% – historicamente elevadas para o país – pelos últimos nove meses.
A ferramenta CME FedWatch, que compila as expectativas do mercado, indica que cerca de 96% dos investidores aposta em um corte de 0,25 ponto percentual nos juros do Fed. Os outros 4% veem uma redução ainda mais ampla, de 0,5 ponto. A ferramenta indica chance nula de manutenção.
“Para o dólar, o cenário de decisão de juros no curto prazo pode apresentar um peso, dependendo da ação e do guidance feitos pelo Fed, podendo enfraquecer um pouco mais o dólar em âmbito global, ao mesmo tempo que uma surpresa ou um tom mais duro pode reverter o cenário de depreciação do dólar”, avalia Nickolas Lobo, especialista em investimentos da Nomad.
Com juros mais baixos nos EUA, enquanto as taxas brasileiras devem ser mantidas em 15% ao ano pelo Banco Central, é mais favorável ao investidor estrangeiro pegar dinheiro “mais barato” lá fora e alocar por aqui em títulos que podem fazê-lo render mais. Esse é o chamado carry trade.
“O movimento do dólar em relação ao real depende fortemente do fluxo de capitais internacionais. Em linhas gerais, juros mais baixos nos EUA reduzem a atratividade dos ativos americanos e incentivam investidores a buscar melhores retornos em países emergentes como o Brasil”, explica Otávio Oliveira, gerente de Tesouraria do Banco Daycoval.
“Esse movimento aumenta a entrada de dólares no país, amplia a oferta da moeda e, em consequência, tende a valorizar o real. Assim, a cotação do dólar pode recuar em setembro se o corte for confirmado e bem recebido pelo mercado”, conclui.
O BC já sinalizou que os juros do país devem permanecer em patamar restritivo por um período “bastante prolongado”, o que torna o carry trade ainda mais favorável, segundo João Soares, sócio-fundador da Rio Negro Investimentos.
Incertezas
O tarifaço de Donald Trump também jogou contra o preço do próprio dólar, que vem sofrendo uma desvalorização pelo mundo ao longo dos últimos meses, ressaltou Otávio Oliveira. “Ou seja, o próprio dólar vem perdendo certo valor independentemente de fatores domésticos no Brasil”, diz o gerente do Daycoval.
Para Cristiano Oliveira, do Banco Pine, “o real deve manter a tendência de valorização frente ao dólar nos próximos meses, sustentado pelos” fatores já discutidos.
Tony Volpon, ex-diretor para Assuntos Internacionais do BC e colunista do CNN Money, avalia que é provável que o câmbio siga uma tendência de desvalorização, ao precificar que o valor justo do dólar seria próximo de R$ 5.
Otávio Oliveira ressalta, contudo, que questões internas – como tensões políticas e a dinâmica fiscal – podem limitar a valorização do real.
“Além disso, o cenário internacional carrega riscos difíceis de prever, como a recente crise comercial entre EUA e Brasil. O que pode gerar volatilidade”, conclui o Daycoval.