Pescadores pedem linha de crédito para resgatar setor do tarifaço de Trump

Uma linha de crédito de R$ 800 milhões a R$ 900 milhões é uma das principais demandas “para resgatar o setor de pescados da situação grave” imposta pelo tarifaço de Donald Trump contra o Brasil, segundo Eduardo Lobo, presidente da Abipesca (Associação Brasileira das Indústrias de Pescados).

O representante dos aquicultores direciona uma carta ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com o pedido. A informação foi trazida pelo jornal O Globo, e confirmada por Lobo em entrevista à CNN.

“Para que a indústria não pare, isso é muito importante, nosso socorro precisa ocorrer ‘ontem’. É um plano emergencial de resgate para um setor que vai quebrar”, enfatizou o presidente da Abipesca à reportagem.

O empresário relata que “são muitos os parceiros que vivem da exportação de pescados, muita gente que trabalhou e nunca imaginou que ia ter a quebra da relação com os Estados Unidos. Esperava-se isso de qualquer país, menos com os Estados Unidos”.

70% dos pescados exportados pelo Brasil são direcionados ao mercado norte-americano, segundo a Abipesca. A entidade esperava terminar o ano com US$ 600 milhões em produtos vendidos, sendo pouco mais de R$ 400 milhões angariados com os EUA.

Lobo afirma que o setor deve deixar de exportar US$ 200 milhões caso a tarifa de 50% prevaleça e o governo não socorra o setor.

“A situação é diferente do suco de laranja, do café, da carne e do aço, que os Estados Unidos têm dependência, precisa, têm que comprar. Vai subir o preço lá, mas vai ter que comprar. No pescado não, eles simplesmente suspenderam todos os pedidos e estão comprando de outros mercados na América Central. A cadeia está travada.”

No dia 9 de julho, o presidente dos Estados Unidos anunciou a alíquota mais elevada contra os importados brasileiros, num patamar que distoa das demais taxas aplicadas até o momento. Os exportadores falam em perda de competitividade no mercado norte-americano e, em alguns casos, em uma disrupção virtual na relação comercial.

O presidente da Abipesca diz que o setor encara este cenário mais drástico: “a corda já arrebentou para os aquicultores. O que tenho comentado é que se vai para 60%, 70%, 80%, daqui para frente é indiferente, já não está mais competitivo. E nosso setor não aguenta esperar 90 dias para que uma solução racional entre as partes aconteça. Precisamos de uma linha de crédito para as indústrias de exportação”.

“O governo até sugeriu que o setor privado faça pressão aos importadores para que estes façam pressão no governo americano, mas isso para o setor de pescados não funciona. O importador americano de pescados não vai ligar para o presidente baixar tarifas, vai comprar mais barato do concorrente.”

Questionado se o setor poderia buscar alternativas e desviar a produção para outros mercados, Lobo avalia que o mercado europeu poderia ser uma opção, contudo, a entrada de pescados neste está embargada desde 2017.

O acordo de livre comércio Mercosul-UE (União Europeia) traz uma perspectiva para o presidente da Abipesca, porém reforça que os aquicultores precisam de “algo imediato, uma excepcionalidade”.

Lobo explica que a produção brasileira de pescados é majoritariamente artesanal e familiar, cuja atividade gera emprego e renda nas regiões de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais baixos do país.

Ele diz que a tarifa deixou os aquicultores “em situação de xeque-mate, porque não tem segunda opção”, e apesar de tentar manter o olhar prático e técnico, esta “é uma situação que o setor nunca viveu antes e que pode ser pior ainda”.

“O impacto vai ser irreversível se não houver um resgate para esse setor. É um trabalho de décadas se desmanchando, porque depois de ocupado o espaço [na mesa de jantar do cidadão norte-americano], dificilmente conseguiremos voltar a ocupar novamente.”

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